Olá!
Aqui venho com o meu conto para o desafio do Grupo Fábrica de Histórias.
Título: Idosa Independência
Número de Palavras: 638 Palavras
Autora: Sílvia Andrade
Sinopse: Margarida é uma idosa senhora que vê o filho casar-se recentemente. Moradora de uma pequena aldeia, recebe o convite de ir morar com o filho e a esposa do mesmo. Margarida nega, pois a sua independência é o mais importante. Pelo menos, para ela.
Margarida era uma senhora idosa, baixa, magra e com os seus cabelos brancos. Era viúva, mas com um filho que, volta e meia, visitava a aldeia.
Sentou-se no velho banco de madeira no seu quintal que o seu avô lhe tinha oferecido, há mais de sessenta anos. O seu avô era carpinteiro, trabalhava com madeira e construía de tudo um pouco. Ele produzia e fazia vários brinquedos para depois oferecer às crianças da aldeia. Mas também trabalhava no ramo. Ela sempre era presenteada por algum brinquedo, quando era mais jovem, ou móvel, quando se tornou mais velha.
Margarida contemplava atentamente o céu azul de primavera. Ela vivia naquela casa humilde desde que se casara, tinha-se apaixonado pela beleza daquela aldeia e tinha até uma pequena horta em que cultivava legumes e frutas. Ela fora casada durante quarenta anos com Francisco, que era o seu amigo e vizinho. Desse casamento nasceu Adalberto, o seu único filho que morava na cidade, mas que, de vez em quando, visitava a aldeia para rever a mãe. Adalberto casara-se recentemente e tinha uma proposta para fazer à mãe. Esperava por ele no quintal. A campainha não tardou a tocar e a idosa foi atender Adalberto.
– Olá, mãe!
– Olá, meu querido, como está?
– Estou bem.
Eles abraçaram-se e a idosa disse-lhe para se sentar no sofá. Ele assim o fez. Margarida repetiu o gesto.
– A senhora sabe que me casei há pouco tempo.
– Sim.
– E sabe que sempre fomos muito unidos e... O pai sempre pensou que nunca me casaria... Falei até com a minha mulher...
Margarida interrompeu.
– Querido, o que me quer dizer?
– Mãe, é ... – Ele pareceu nervoso – É a mesma pergunta de sempre, minha mãe.
– Outra vez o pedido de viver com vocês?
– Sim, garanto-lhe que a Luísa também está de acordo.
A Luísa era a nora. Uma jovem muito bonita. Alta, morena, de olhos castanhos cor de avelã. Parecia ser muito simpática e até era. Seguiu profissionalmente medicina veterinária. Cuidava dos bichinhos. Tinha muito amor maternal. Margarida achava que ela daria uma ótima mãe. Mas também nunca foi pessoa de pressionar o filho.
– Querido, nós já falámos sobre isso.
– Eu não gosto de ver a mãe aqui.
– Mas eu sempre vivi aqui, querido.
– Eu sei, mas agora as coisas estão diferentes. Eu casei-me.
– E devia casar.
– A mãe sabe que eu demorei para casar por causa do pai.
– O pai sabe que o menino iria ter que ser independente alguma vez na vida.
– E eu sou, mas...
Margarida interrompeu, novamente.
– Querido, não tente me demover, eu já respondi a primeira vez e responderei sempre o mesmo. Eu não vou.
– Mas a mãe pode...
Margarida interrompe.
– Não vai acontecer nada comigo e se algum dia acontecer, metam-me num lar. Vocês têm dinheiro.
– Nunca colocaria a mãe num lar. – Adalberto pareceu ofendido.
– Meu querido – Margarida colocou a sua mão por cima da mão do filho – Respeita a minha decisão. Eu quero continuar a ser independente. Ainda tenho o meu cérebro intacto, não sofro de Alzeimer, estou lúcida... Enquanto isso acontecer, eu quero viver aqui, nesta casa. Na minha casa.
Adalberto respirou fundo. Compreendeu.
– Não é por causa da Luísa, não?
Margarida abanou a cabeça.
– Claro que não. Vocês estão casados, merecem viver a vossa vida com tranquilidade. Eu estou bem aqui.
Margarida sorriu. Adalberto desejava muito que ela fosse viver com eles. Margarida, de frente à janela da sala, sempre recusou e dizia que a vida dela era ali. A vida dela era assim. A vida de todos é assim. Como quando a chuva cai na terra, e sabemos que ela irá molhar-se, mas cedo o sol a aquece. É a lei da vida, o ciclo da vida. Nós nunca saímos de um lugar onde estamos bem. E Margarida sentia-se bem. Ainda era uma idosa independente e isso a fazia sentir-se bem.
Espero que tenham gostado!