Olá!
Aqui venho com o meu conto para o desafio sobre contos ambientados no Brasil do Grupo Fábrica de Histórias.
Espero que gostem!
Título: A Despedida
Número de Palavras: 1.021 Palavras
Autora: Sílvia Andrade
Sinopse: Rafael viu o seu relacionamento de anos ruir por razões inexplicáveis. Luíza pegou um avião para São Paulo o abandonando, após o casamento do irmão dele. Porém, a despedida desgostosa não durou muito tempo. Tendo como última memória da ex um guardanapo de papel, Rafael pôde se permitir a um novo futuro.
Nunca pensei que fosse possível superar um amor tão rápido. O dia já passou. É meia-noite e cinco minutos. Estou há algumas horas encarando o relógio e tentando entender tudo o que aconteceu. Não consigo dormir. Viro incontáveis vezes na cama me perguntando se estou sendo estúpido. Eu não esperava que acontecesse dessa forma. Não tão rápido. Foi ontem. Mas parece ter sido há mais tempo do que isso.
Desdobro o guardanapo guardado no meu bolso com a mesma facilidade da primeira vez. Um fim. Nunca fui muito bom com despedidas. Acho que ninguém é. Mas dessa vez foi diferente. Não pensei que fosse me deixar assim, tão devastado.
Horas antes...
Desdobro o guardanapo guardado no meu bolso com a mesma facilidade da primeira vez. Um fim. Nunca fui muito bom com despedidas. Acho que ninguém é. Mas dessa vez foi diferente. Não pensei que fosse me deixar assim, tão devastado.
Estou assentado na calçada da rua da minha casa. São seis da manhã e estou bem vestido demais para estar aqui. Mas não importa. As pessoas que passam estão bêbadas demais para notar.
Meu irmão se casou ontem à noite. Ele se juntou ao seu amor... e eu me separei do meu.
– Você precisa seguir sua vida, Rafael. – Me falou ela, com alguma frieza.
– O que você quer que eu faça, Luíza? Só me diz? O que eu faço?
– As coisas não são mais as mesmas.
– Não são mais as mesmas? Eu te dei tudo, Luíza, tudo. Eu te dei todo o meu amor.
Ela baixou a cabeça. Parecia mais envergonhada do que triste. Nem um ar de arrependimento ela tinha no rosto.
– Rafael... Não piore as coisas.
– Piorar? Você marca uma hora comigo aqui nesse bar, achando que você me ia dar uma boa notícia e vem para terminar comigo? Como você quer que eu reaja?
Ela reparou no olhar das pessoas. Estendeu a mão a um guardanapo. Ela me deixou um bilhete escrito à mão em um guardanapo de bar. Com uma letra bonita, inclinada para a esquerda, ali estava ela. Podiam ser palavras de amor, mas ela me deixou isso:
Ela disse que as coisas já não eram as mesmas e que tinha que partir. Abanei a cabeça, frustrado e triste.
– O meu irmão casou ontem, Luíza. Casou ontem.
Ela baixou a cabeça. Não acredito nisso. Juro que não acredito nisso. Ela deveria ter sido minha acompanhante no casamento. Deveria ter usado um vestido longo e maquiagem, e entrado ao meu lado na igreja. Ela deveria ter notado que finalmente cortei o cabelo, depois de seis meses, e que estava usando uma gravata rosa porque era sua cor favorita. Ela deveria ter dançado comigo, e rido comigo, e ficado envergonhada comigo quando meu pai disse que eu deveria ser o próximo a me casar. Mas ela não fez nada disso. Porque ela me deixou.
– Desculpa, Rafael. – Ela se levantou da cadeira e saiu do bar.
Não tive como olhar para trás. Não tive como olhar para ela. Ela devia ter ficado comigo. Mas não ficou.
Os noivos pegaram o último voo para Buenos Aires há uma hora, e eu saí de lá para aqui. Para me sentar em frente à minha casa. Talvez eu espere que ela apareça e me diga que desistiu de voltar para São Paulo. Talvez eu espere demais.
Conheci a Luíza na faculdade de direito. Ela era tímida e eu tinha terminado o meu ensino médio com fama de garanhão. O pior é que nem era. Nos conhecemos e nos tornámos amigos. Com o tempo claro que essa amizade floresceu. Ela não acreditou que tivesse tido essa fama antes. Na faculdade passei a ter fama de nerd. Como a vida muda! Hoje podemos estar aqui e amanhã já não estamos. Hoje poderia estar celebrando o casamento do meu irmão com a Luíza, com ela, com a mulher que pensei que iria construir uma família e casar, mas ela sumiu. Sumiu dizendo que ia embora para São Paulo ter com a família afastada. Não era verdade. Que eu soubesse, ela nem tinha família em São Paulo. Ela é carioca. Uma típica carioca. Ela sempre amou as praias, o calor, o calçadão. Ela sempre amou o Rio. O Rio de Janeiro sempre será o lugar dela. São Paulo nunca será. E espero que eu também seja o lugar dela. Talvez eu tenha expectativa demais.
Alguém tosse perto de mim. Só reparei no chinelo no pé. A unha está pintada, é claramente uma mulher. Olho para cima por uns dois segundos e vejo a moça. É Jéssica. Uma antiga colega da faculdade.
– Como você está, Rafael?
Ela me lança um sorriso. Retribuo, porque é inevitável.
– Estou bem. E você?
– Também estou ótima. Eu me mudei, sabe?
Ela se sentou do meu lado na calçada.
– Aqui nessa rua?
– Sim. Não conheço ninguém. Está sendo difícil.
Eu sorri levemente.
– Agora você me conhece.
Ela sorriu também.
– O que estava fazendo?
Olhei em frente, imaginando um horizonte na minha cabeça.
– Pensando.
– Não parece muito bem.
Respirei fundo.
– Vai passar.
– Estou querendo uma ajuda por aqui. Não sei se irei te incomodar...
Ela esperou uma reação minha.
– Não será incômodo nenhum. De qualquer forma, – Digo, enfiando o guardanapo no bolso da calça novamente – estava aqui em um devaneio do qual não vou me arrepender de sair.
Ela sorri para mim.
– Problemas com a Luíza?
Eu me levantei do chão.
– Não, foi mais uma despedida.
Ela repetiu o meu gesto.
– Entendo.
– Amanhã te ajudo com os vizinhos, te apresento a eles.
– Obrigada. – Ela respondeu, sorrindo.
– Já agora, o que faz aqui a essa hora?
– Sei lá o que eu faço. Ainda não terminei a faculdade igual a você.
– Acho que nunca gostou de direito.
– Não, mesmo. Mas fazer o quê? Era ideia do meu pai. Por isso é que estou aqui. Vim morar sozinha. Um novo futuro.
Eu sorri com as palavras dela. Um novo futuro. Jéssica parecia feliz, diferente dos tempos da faculdade. Eu já tinha vivenciado esse momento algumas vezes. Aquele primeiro contato com o futuro. Uma nova vida. Ela parecia feliz. Ela parecia realmente feliz.
– O que você quer que eu faça, Luíza? Só me diz? O que eu faço?
– As coisas não são mais as mesmas.
– Não são mais as mesmas? Eu te dei tudo, Luíza, tudo. Eu te dei todo o meu amor.
Ela baixou a cabeça. Parecia mais envergonhada do que triste. Nem um ar de arrependimento ela tinha no rosto.
– Rafael... Não piore as coisas.
– Piorar? Você marca uma hora comigo aqui nesse bar, achando que você me ia dar uma boa notícia e vem para terminar comigo? Como você quer que eu reaja?
Ela reparou no olhar das pessoas. Estendeu a mão a um guardanapo. Ela me deixou um bilhete escrito à mão em um guardanapo de bar. Com uma letra bonita, inclinada para a esquerda, ali estava ela. Podiam ser palavras de amor, mas ela me deixou isso:
"As coisas não são mais as mesmas. Eu tenho que partir. Desculpa. Adeus".
Ela disse que as coisas já não eram as mesmas e que tinha que partir. Abanei a cabeça, frustrado e triste.
– O meu irmão casou ontem, Luíza. Casou ontem.
Ela baixou a cabeça. Não acredito nisso. Juro que não acredito nisso. Ela deveria ter sido minha acompanhante no casamento. Deveria ter usado um vestido longo e maquiagem, e entrado ao meu lado na igreja. Ela deveria ter notado que finalmente cortei o cabelo, depois de seis meses, e que estava usando uma gravata rosa porque era sua cor favorita. Ela deveria ter dançado comigo, e rido comigo, e ficado envergonhada comigo quando meu pai disse que eu deveria ser o próximo a me casar. Mas ela não fez nada disso. Porque ela me deixou.
– Desculpa, Rafael. – Ela se levantou da cadeira e saiu do bar.
Não tive como olhar para trás. Não tive como olhar para ela. Ela devia ter ficado comigo. Mas não ficou.
Os noivos pegaram o último voo para Buenos Aires há uma hora, e eu saí de lá para aqui. Para me sentar em frente à minha casa. Talvez eu espere que ela apareça e me diga que desistiu de voltar para São Paulo. Talvez eu espere demais.
Conheci a Luíza na faculdade de direito. Ela era tímida e eu tinha terminado o meu ensino médio com fama de garanhão. O pior é que nem era. Nos conhecemos e nos tornámos amigos. Com o tempo claro que essa amizade floresceu. Ela não acreditou que tivesse tido essa fama antes. Na faculdade passei a ter fama de nerd. Como a vida muda! Hoje podemos estar aqui e amanhã já não estamos. Hoje poderia estar celebrando o casamento do meu irmão com a Luíza, com ela, com a mulher que pensei que iria construir uma família e casar, mas ela sumiu. Sumiu dizendo que ia embora para São Paulo ter com a família afastada. Não era verdade. Que eu soubesse, ela nem tinha família em São Paulo. Ela é carioca. Uma típica carioca. Ela sempre amou as praias, o calor, o calçadão. Ela sempre amou o Rio. O Rio de Janeiro sempre será o lugar dela. São Paulo nunca será. E espero que eu também seja o lugar dela. Talvez eu tenha expectativa demais.
Alguém tosse perto de mim. Só reparei no chinelo no pé. A unha está pintada, é claramente uma mulher. Olho para cima por uns dois segundos e vejo a moça. É Jéssica. Uma antiga colega da faculdade.
– Como você está, Rafael?
Ela me lança um sorriso. Retribuo, porque é inevitável.
– Estou bem. E você?
– Também estou ótima. Eu me mudei, sabe?
Ela se sentou do meu lado na calçada.
– Aqui nessa rua?
– Sim. Não conheço ninguém. Está sendo difícil.
Eu sorri levemente.
– Agora você me conhece.
Ela sorriu também.
– O que estava fazendo?
Olhei em frente, imaginando um horizonte na minha cabeça.
– Pensando.
– Não parece muito bem.
Respirei fundo.
– Vai passar.
– Estou querendo uma ajuda por aqui. Não sei se irei te incomodar...
Ela esperou uma reação minha.
– Não será incômodo nenhum. De qualquer forma, – Digo, enfiando o guardanapo no bolso da calça novamente – estava aqui em um devaneio do qual não vou me arrepender de sair.
Ela sorri para mim.
– Problemas com a Luíza?
Eu me levantei do chão.
– Não, foi mais uma despedida.
Ela repetiu o meu gesto.
– Entendo.
– Amanhã te ajudo com os vizinhos, te apresento a eles.
– Obrigada. – Ela respondeu, sorrindo.
– Já agora, o que faz aqui a essa hora?
– Sei lá o que eu faço. Ainda não terminei a faculdade igual a você.
– Acho que nunca gostou de direito.
– Não, mesmo. Mas fazer o quê? Era ideia do meu pai. Por isso é que estou aqui. Vim morar sozinha. Um novo futuro.
Eu sorri com as palavras dela. Um novo futuro. Jéssica parecia feliz, diferente dos tempos da faculdade. Eu já tinha vivenciado esse momento algumas vezes. Aquele primeiro contato com o futuro. Uma nova vida. Ela parecia feliz. Ela parecia realmente feliz.
Acho que foi aí que me esqueci do bilhete, do casamento, do aeroporto, dela. Me esqueci de tudo e me permiti dar lugar a um novo futuro. Assim como ela.
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Gostei muito da história, esse final deixou um gostinho de quero mais
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